A partir de vasta pesquisa, a artista multimídia Yara Guasque realizou a recriação do jardim de Fritz Müller, a princípio por meio de vídeo, depois com fotografias e instalações, reunindo as espécies coletadas e estudadas pelo naturalista que estavam catalogadas no Royal Botanic Garden de Kew, Inglaterra.
Por meio da geração de QR Codes, Yara tornou sua exposição colaborativa, convidando os visitantes a realizarem suas próprias buscas, inserindo mais plantas desidratadas na lista inicial da pesquisa.
Yara revela que conheceu o trabalho de Müller visitando o Museu que o homenageia, em Blumenau. Lá, sentiu falta da presença de algo que também era de grande importância para o naturalista. “Na casa de Fritz Müller, hoje Museu, faltava a recuperação de seu jardim. E a dívida para com sua figura, que penso ser a recuperação de seu jardim, o que seria uma homenagem à altura do homenageado”, revela.
Buscando se familiarizar por imagens, a artista buscou na internet fotos das sementes trocadas entre Müller e Darwin. “Com as imagens da pesquisa resolvi fazer um vídeo. Paralelamente procurei no Royal Botanic Garden de Kew pelas coletas atribuídas a Fritz Müller, para com estes dados iniciar meu jardim em homenagem ao cientista”, explica Yara.
A partir das três imagens iniciais transformadas em QR Code, a artista decidiu atrair a participação de internautas e participantes da exposição presencial para que colaborassem na pesquisa, compondo o jardim de diversas formas: plantando seus achados como dados, que se relacionassem com as plantas depositadas nos herbários europeus.
NOVOS RUMOS
Mais tarde, a artista revela que a pesquisa teve outro rumo, quando percebeu a relação das viagens de coleta na América do Sul e o depósito do material na Inglaterra. “A colaboração entre Fritz Müller e Charles Darwin data de 1882. É quando Darwin cansado, e já adoecido, continua sua pesquisa nas Américas, dando coordenadas da pesquisa a ser realizada in loco, através de colaboradores mais jovens e sediados no lugar das coletas”, aponta.
Yara conta que, em 2010, ao ler o edital do projeto REFLORA, de repatriamento das espécies coletadas nos séculos XVIII, XIX e XX, e procurando no herbário Kew, Royal Botanic Gardens, da Inglaterra, os nomes de cientistas que efetivaram coletas de espécies da América do Sul, encontraria o nome de Fritz Müller.
Depois disso, a artista conta que realizou caminhadas nos arredores de Florianópolis e reconheceu muitas das espécies coletadas por Fritz Müller. “Hoje, se debruçar com os arquivos de Kiew de plantas desidratadas, mais do que as plantas, o que se nota é a sobreposição de carimbos das instituições de pesquisa: uma disputa de direitos sobre a espécie coletada”, destaca.
Para a artista, o principal legado de Fritz Müller foi “a sobrevivência intelectual em um meio tão desfavorável e a ideia de ter a floresta como livro aberto, que é encantadora. Confesso que a ciência do século XIX é mais atraente para um artista, pois se mistura à de um etnólogo, do que a realizada no século XXI”, finaliza a artista.
Jornalista
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