Convém sempre desconfiar dos ativistas, às vezes exageram. Ouvir, no entanto, quem conheceu alguém, foi seu aluno, conviveu com resultados concretos de sua vida produtiva permite formar opinião confiável. Vamos então ver o que escreveu sobre Fritz Müller o Presidente da Província de Santa Catarina Francisco Luiz da Gama Rosa (29.ago.1883 a 09 set. 1884).

“Fritz Müller, o grande naturalista darwínico, representa, com o arqueólogo Lund, da Lagoa Santa, os dois maiores cientistas habitando permanentemente e definitivamente o Brasil, numa adoção de Pátria. Conhecemo-lo em Santa Catarina, quando Professor de matemática, no Liceu Provincial, de que fomos juvenil aluno durante três anos, de 1862 a 1865. Fritz Müller viera para o prestigioso, original e feérico Brasil, impelido por paixão cientista, aportando a Santa Catarina em 1852. Vagando, porém, um lugar no Liceu Provincial, conquistou a cadeira de matemática, em concurso para sempre célebre. Era nesta época homem de 35 para 40 anos, alto, magro, ágil, a barba inteira, curta, rala, sempre vestido singelamente com roupas de algodão, tecidas na terra catarinense.  Uma de suas singularidades era realizar os cálculos de modo exclusivamente mental. Como disciplinado prussiano, jamais faltava ao Liceu, a hora exata, e cumprido rigorosamente o dever oficial volvia apressadamente a Praia de Fora onde habitava com a consorte e família, uma numerosa ninhada de crianças louras, por vezes acompanhando-o ao longo da praia, quando, pés descalços e calças arregaçadas até os joelhos, colhia à beira d’água abundantes e variados espécimes da fauna marinha, que cuidadosamente classificava. Frequentemente, as excursões dirigiam-se também às florestas e montanhas e, aí trabalhava isolado, sem a escolta das crianças louras. Fritz Müller singularizava-se como naturalista por intensíssima e universal intuição filosófica, como assinalado intérprete das doutrinas de Darwin, com quem ativamente se correspondia, merecendo do Jeová do naturalismo plena aceitação e glorificantes referências. Fatos, investigações, descobertas, realizadas por Fritz Müller, à luz desta ingente teoria, incessantemente corroboram e ampliam a grande doutrina emancipadora da mentalidade humana. As numerosas e prestantes obras de Fritz Müller, todas versando sobre a natureza brasileira, merecem ser colecionadas, traduzidas e vulgarizadas. Fritz Müller, apesar de aparências abstratas e reservadas, era vivíssimo espírito, sempre a par não só de progressos científicos, como de todos os sucessos ocorridos no mundo, e muito especialmente no Brasil, acompanhando-os detidamente, em prolongadas leituras de jornais da Alemanha e nas do nosso invencível decano o “Jornal do Comércio”. Apenas aposentou-se como lente fixou residência em Blumenau, onde por dilatados anos cercado de universal veneração, extinguiu-se como supremo chefe espiritual daqueles nascentes povos teuto-brasileiros.”

(Com homenagens à publicação Blumenau em Cadernos (tomo VII, n. 1, 1965) e a Hemeroteca Digital Catarinense).