“Oh, homem malvado, por que a vingança?

Por que nos persegue com veneno e fogo?

Se aquelas, lá no tronco de imbaúba,

com ferrão venenoso um ferimento lhe causaram,

nós somos um povo pacífico e calmo,

a ninguém prejudicamos, nem dano provocamos.

 

Tarde e cedo,

com esforço e aplicação,

roemos folhas, fazemos ração,

carregamos cargas, fazemos caminhos,

alimentamos os jovens, construímos o ninho,

nem temos tempo de olhar para o vizinho!

 

Agora vem você nos envenenar,

e em nosso ninho o fogo atear.

Destrói o que construímos com perseverança!

Oh, homem malvado, por que a vingança?!”

 

“O que fizeram vocês? Escutem! Vou lhes contar.

É com prazer que as vejo tão dedicadas a carregar,

mas não devem as minhas plantas mastigar.

Perto do riacho há folhas e flores delicadas,

gramas e ervas bem variadas,

suficientes para vocês e sua cria,

mas a sua língua exigente não agradaria!

 

Tarde e cedo,

com aplicação e esforço,

a minha terra eu semeei, plantei e lavrei,

mas à toa o trabalho e suor apliquei.

Mal uma folhinha aparecia,

era ela cortada e desaparecia.

 

Uma arvorezinha eu plantei

e com seu crescimento me alegrei.

Hoje outra vez retornei,

mas minha arvorezinha está vazia e pelada,

e minhas preocupações e esforços foram para nada.

 

Só um único raminho ainda está verde,

e veja, vocês cortam a folha agilmente

e carregam alegremente

em suas costas os pedacinhos,

e os levam embora. Eu prontamente as observei

e enfim o seu formigueiro encontrei.

Vocês queriam estragar toda a minha plantação

e por isso devem morrer sem perdão.”

 

Tradução e adaptação de Flavia Pacheco, Stefano Hagen e Luiz Roberto Fontes.

Luiz Roberto Fontes

Luiz Roberto Fontes

Biólogo, médico pela USP e Dr. em Zoologia