Neste artigo faremos como Fritz Müller às vezes fazia, saindo do tema dominante, indo para a reflexão filosófica e para o conhecimento geral. As teorias evolucionistas lineares não chegaram a um entendimento na questão do nascimento da civilização. No processo evolutivo fundado nas qualidades de adaptação que produzia avanços e sobrevivência de espécies, numa muito longa caminhada, entre os pré-humanos ocorreu um momento crucial no qual um deles ou um pequeno grupo deram um passo gigantesco.  Do estágio selvagem seguiram para a barbárie e deste para a civilização, segundo descrevem estudiosos do assunto. Como definir este momento? Como fixa-lo? Teorias, teses, longas dissertações na antropologia discutem e radicalizam neste ponto. Uns dizem que foi a invenção do fogo, da cerâmica, da domesticação de animais, do cozimento de alimentos, de armas de defesa e de ataque, e com a renúncia ao nomadismo com a produção agrícola.                                                                                                         

Pois bem, vejamos uma definição mais moderna, genial em sua simplicidade, arguta, que acrescentou um olhar humanista às teorias e especulações anteriores e que talvez continue a abalar as teorias sofisticadas defendidas em muitas praças atuais. Vem da antropóloga americana Margaret Mead, (1901-1978) que fazia parte de um grupo de estudiosos próximos a Franz Boas e de Ruth Benedict, na Universidade de Columbia. Muitos estudiosos os conhecem bem. Gilberto Freyre estudou com eles. Fundavam parte de suas observações na revolução cognitiva pós-teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, olhando para indivíduos também e não só para grandes grupos e seus movimentos. É dela a afirmação mulleriana: “não teremos sociedade se destruirmos o meio ambiente”.                                                                                  

Sobre o nascimento da civilização ela afirmou: “(…) diz mais do processo civilizatório um fêmur humano partido e cicatrizado que artefatos ou invenções”.  Ela explica que nenhum animal aparentado na escala evolutiva aos pré-humanos, sobrevive a um fêmur quebrado. Tinha claro que estes pré-humanos desenharam tudo o que entendemos como futura civilização. Este acidentado não poderá se movimentar, procurar água nem alimento nem proteção. Será fatalmente devorado por outros animais. Agora vem o insight dela. Uma fratura grave num humano exige um outro humano ao seu lado para ajudá-lo a superar a dificuldade até cicatrizar o osso quebrado.  Sem o apoio de um ou de vários humanos teria o mesmo destino dos demais animais, servindo de alimento para outros animais. Aí está a civilização chegando.

A CIVILIZAÇÃO É UMA AJUDA COMUNITÁRIA.  

Simples, direto, verdadeiro. Um estudioso chama nossa atenção para o fato que Müller não focou sua atenção nestes aspectos evolutivos. Foi coisa muito mais de Darwin especular sobre a evolução humana e a civilização.

Para nós que relacionamos neste momento Fritz Müller com Charles Darwin, pela cooperação na afirmação da Teoria da Evolução das Espécies por meio da Seleção Natural, seus estudos neste campo não se fazem muito presentes.                                                                                              

Mas julgamos que não é preciso uma grande tese para chegar a uma verdade básica como a enunciada por Mead. Fazendo um corte na escala dos humanos ela entendeu que o passo civilizatório se deu neste movimento solidário, quando futuros humanos começaram a se ajudar.  Alguns atribuem como o nascimento de ideais de bondade natural, de solidariedade assumida como um bem, de certo anúncio de religiosidade. Um filósofo radical diria que não. Que foi um acidente feliz de percurso, uma pequena chama de inteligência dedutiva nascendo que distinguiria para sempre este grupo dos demais.  Deu em nós, com todos os acertos e todas as contradições que carregamos.                                                                  

Como comentário final para os amantes de filmes: este foi um momento que colide com a teoria do brilhante filme “2001 Uma Odisseia no Espaço” de Stanley Kubrick, onde o salto se dá com um espantado pré-humano descobrindo o poder de uma arma – um porrete feito de osso que usa para matar um concorrente-. Este porrete é mostrado na cena seguinte num espantoso salto subindo para o céu ao encontro do frio esplendor de uma serena nave espacial, milhões de anos depois. Hoje, portanto. O orgulho da vitória tecnológica.

Na versão de Mead talvez se proclame algo que redima a espécie humana da sua verdadeira natureza. Talvez não tão generosa e capaz de ajudar o outro. Mas dá sentido para nossas vidas. O que te parece caro leitor?

Marcondes Marchetti (com a cooperação de Alberto Lindner)

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