Alguém deveria ter prevenido Ícaro, que ao fugir do labirinto com seu pai Dedalus, deveria ouvi-lo com muita atenção, porque ele era mais experiente, mais preparado.  Ícaro, jovem, não ouviu a veemente recomendação de seu pai:  não voe muito baixo, pois nossas asas de penas podem molhar na água do mar, e não voe muito alto pois a cera com que colamos as penas derreterão com o calor do sol. Fugiram do labirinto a que foram condenados por erros anteriores, numa fenda que dava para o mar, e saíram voando, graças a genial invenção de seu pai, as asas feitas de penas coladas em seus braços.  O fim foi trágico para Ícaro, que inebriado com subir sempre mais em seu voo, viu rompida a cera caindo no mar e morreu. Restou ao seu pai a agonia interminável da culpa, pois como inventor genial não conseguira aconselhar para a prudência seu filho. A mitologia grega tece histórias complexas, fazendo conviver Deuses e humanos, com um limite, entretanto, não ousem os humanos subir demais. Melhor, saber demais. Mais que eles.

Um grave dilema que viveu no seu tempo Fritz Müller, como educar suas filhas? Como fazê-las olhar  com atenção e respeito para a natureza, as plantas, os animais, e a teia de vida natural que as cercava? E, muito mais grave para ele como pai, como prepará-las para a incerta vida futura? Nós sabemos hoje que se ele pudesse prever os fatos futuros de sua vida e delas, veria que tinha toda razão. Mas tinha suficiente experiência e conhecimento da vida para adotar uma solução, que desde sempre mostrou-se válida, a solução de ensinar por meio de metáforas. Como você ensina por meio de metáforas? Elas contam uma história que por transferência de significados dizem outra coisa. Avisam sobre outro sentido.  Nas lendas, mitos, fábulas, histórias infantis a sabedoria consciente ou intuitiva ia prevenindo as crianças, e os adultos também sobre o tema central de todos nós, a vida que vivemos ou que viveremos. Os que sabiam e sabem engendrar metáforas sempre mostraram a ingenuidade ou a maldade inerente aos humanos.   Fritz Müller optou por poemas, que contavam uma história, que tinha outros significados.   Avisos que seriam explicados se não fossem evidentes.  Como poeta o cientista foi igualmente um pai amoroso e um educador antes de todos nesta parte da América. Vejamos três de seus poemas maravilhosos.  1. ANIMAIS MARINHOS. Diz nas estrofes que na natureza marinha e nas matas imperam movimentos felizes. De camarões, lagostas, cavalos marinhos, peixinhos prateados e sapos, cobras, macacos, folhagens e árvores. Mas, sempre vem o mas que pode ensinar, ao ligar a linha narrativa do poema ao mar, diz que não há nenhum ruído que sinaliza o destino atrás das pedras do mar. E lá se vão os distraídos para seu fim.  Nenhum lamento depois, só a solidão e calada a alegria e muda a desgraça.  Digamos que este poema não foi escrito somente para suas filhas, pois pode muito bem ser entendido como o aviso que diz a nós todos, preparem-se, atrás das aparências reside a natureza, insensível, impessoal, sem começo e sem finalidade moral. Além de poeta ele também foi um filósofo.

Agora vamos a um poema dedicado as suas filhas, 2. O PEQUENO PEIXE E A ÁGUA VIVA. Aí temos o magnifico educador que ele foi, ensinando a elas o que deveriam aprender para suas vidas adultas.  Diz ele no poema:   alegres peixinhos brincam no mar, refletindo prateados raios de sol. Nadam felizes. Não adianta preveni-los, não querem escutar. Seduzem-se pelos fios da água viva. Fujam! Fujam!  Não adianta. Presos não conseguem se soltar destes fios enganosos e acabam engolidos. Ele, ao pé do fogão, deve ter lido e relido este poema para elas. Os peixinhos não ouviram os avisos, e suas vidas se foram. Perigos rondam eles. Perigos nos rodeiam no mundo em volta.  Hoje e no futuro. E elas, terão entendido a metáfora?  Como sabemos, as crianças não tem experiência acumulada, mas tem inteligência.  Esta não governa seus impulsos, mas devem ter entendido bem o que seu pai queria dizer.  E para fechar este elogio ao poeta Fritz Müller, vamos ao 3.  GAIVOTA, onde a fera é o menino que lança um anzol com isca para capturar a gaivota na praia.  Esta não sabe que vai ser capturada. Deixou-se enganar a ingênua gaivota. Fisgada alegrou o menino e perdeu sua vida.  Este pai amoroso não escrevia para prevenir pássaros ou para provar-se um atento homem da natureza.  Escrevia para prevenir suas filhas. A isto diz-se usar metáforas para ensinar, dizer uma coisa que significa um aviso de outra coisa.  Dizia, não fechem os olhos para o mundo real, para iscas em anzóis encobertos, colocados no caminho.  Fisgadas pela armadilha escondida, podes perder a realização de um precioso destino que o futuro te reserva.  Teu único bem que pode ou não realizar-se.

Marcondes Marchetti

Coordenador Geral do Grupo Desterro Fritz Müller Charles Darwin 200 anos

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