Arquimedes, um genial matemático grego (287 a.C. 212 a.C.) correu rua afora gritando: Eureka! Encontrei, achei! Ao descobrir o princípio da gravidade específica.  Básico, natural, mas que só sua diligência e seu agudo senso de observação e dedução perceberam permitindo a descoberta.  

Ele, como certas pessoas, tinha noção da urgência e do compromisso decorrente de sua condição especial, como destinado a ser um descobridor. E um dos homens notáveis que vem construindo conhecimentos novos.  Conhecimentos que iriam se somando tempos afora aos conhecimentos de seus antecessores e aos dos seus seguidores, num caminho invisível para a maioria. Construindo avanços concretos e alguma ideia de progresso real para a humanidade.

Estes não pertencem a uma seita de iluminados, melhor seria dizer que estes cumprem o Destino. Que geralmente os fazem infelizes quanto a compreensão e ao reconhecimento dos beneficiados. Tantos que, por sua conta e risco, produziram revoluções na ciência e no conhecimento, que mais os aproximaram da fogueira, tanto eles como suas obras. Ou assassinados como Arquimedes, por seguir trabalhando diante de um irritado soldado romano.

Chegamos ao século XIX, depois do triunfo do Século das Luzes, do Iluminismo, no século anterior sob a bandeira da Razão mais a Ciência para chegar a Verdade. Mas no mundo da ciência do século IXX esta tese não chegara ainda quando o jovem Charles Darwin começava sua aventura que o tornaria o cientista do século. 

Passando aqui ao largo de Desterro, a bordo do navio HMS Beagle, em 1831, rumo ao sul, depois de ter estado em Salvador e no Rio de Janeiro, se tivessem apostado, teria conhecido a vila de Desterro bem antes que outro de sua estirpe viesse a dar nela muitos anos depois, e ao qual viria a se unir de forma tão especial.                                                                                                                               

Foi assim: Darwin, anos depois desta viagem de iniciação, estudando e pesquisando sem parar, somando observações suas com de outros estudiosos da natureza, dá conta de uma evidência na história das espécies, que até então era tida como imutável. Afirmou teorizando que havia um quadro claramente evolutivo na natureza, onde os que mais se adaptavam seguiam em frente.  O que, todos sabem, era negado com toda energia pelos de sempre, arautos de imutáveis verdades que são mentiras consagradas.

Assim que, em 1859, na sofisticada Inglaterra, Darwin lança a obra que revolucionaria a ciência e o conhecimento em todo o mundo culto de então.  Desta vez sem a fogueira em que ardeu Giordano Bruno em fevereiro de 1600, ateada pela Inquisição. Este, que ao ser lembrado, invoca seu mote, que é o de todos os iguais a ele: “ Pelo amor da verdadeira sabedoria e no esforço de refletir corretamente, esgoto-me, torturo-me, atormento-me”. 

Sem fogueiras sim, mas se fosse preciso queimar livros seriam queimados, tal como ardera a Biblioteca de Alexandria, repositório do saber acumulado do mundo até então.  

Bem, para abreviar, Darwin lança suas hipóteses, na obra máxima A ORIGEM DAS ESPÉCIES POR SELEÇÃO NATURAL em 1859. A rede de estudiosos faz chegar a Fritz Müller um exemplar. Ele é alcançado como educador em Desterro, em 1862. Com a leitura desta obra tem o encontro de sua vida, que o lança em frenética busca por evidências confirmatórias da teoria darwiniana.

Já era um pesquisador anos luz à frente de seu tempo e de seu círculo de vida. Não lhe importavam as condições precárias de trabalho, a solidão, as atribulações de tarefas menores. O fim importava, e como um destinado que não pergunta, vai ao limite e descreve numa obra o seu Eureka desterrense, desta vez não saindo correndo nu pela praça como fizera Arquimedes.  Sim, achara evidências que encantariam o mundo da ciência e conquistariam o outro cientista, noutro pais distante,

Charles Darwin unindo-os na tarefa destes que vão construindo o progresso real da humanidade. Dizem os que conhecem a vida de ambos, que além de mútuas pesquisas eles   davam suporte moral um ao outro, no desânimo diante dos reveses ditados pelo ressentimento geral que os cercavam.

Assim que nosso herói da ciência Fritz Müller em 1864 lança sua obra FÜR DARWIN  – PARA DARWIN. E coloca inicialmente Desterro no mapa mundial das discussões que abalaram a metade do século XIX, em torno da Evolução das Espécies.

E depois, já de volta a Blumenau, ele sozinho coloca esta cidade como um dos quatro polos onde se discutia a Evolução no mundo.  Londres com Darwin, Nova York e Paris com suas instituições cientificas, e Blumenau com Fritz Müller. Com total e reconhecida autoridade.

Agora, nós que propomos honrar sua memória nos 200 Anos de seu nascimento, em 2022, aqui na capital de Santa Catarina, sentimos certa alegria ao vê-lo citado como DR. MÜLLER – DESTERRO no seu país de nascimento.

E claro, hoje gostaríamos que aqui também pudesse vir a ser citado como Fritz Müller, de Desterro.  Afinal foi professor e ensinou aqui durante onze anos. Merece fazer parte da história da cidade.

Marcondes Marchetti

Marcondes Marchetti

Coordenador geral do Grupo Desterro Fritz Müller/ Charles Darwin 200 anos