“Eu não pinto a natureza, eu sou a natureza”. Afirmou Jacson Pollock, pintor americano moderno (1912-1956) desarmando os que não entendiam suas obras.

E como entender Fritz Müller?

Renunciando a toda uma brilhante carreira, com alta formação na mais rigorosa escola das ciências do mundo. Cercado de luminares do conhecimento, desde logo reconhecido no seu círculo como um jovem de talento, um observador determinado da natureza.

Vem para uma Colônia de imigrados, num projeto das utopias de recriação de mundos novos, na distante América do Sul. Ele, diferente dos demais, vinha também em busca de um bem inestimável, a liberdade.

No navio que traz as famílias de sonhadores do novo mundo, ao chegarem em São Francisco do Sul em 17 de julho de 1852, o bebê que traziam, Anna, foi uma das poucas crianças que sobreviveu a extrema precariedade da viagem.

Depois, na floresta virgem do rio Itajaí acima, assume ser um colono, um povoador comum. Esquecendo por um tempo a carreira, os planos juvenis, as aspirações de sua vida até ali.

Mas estava onde deveria estar, no meio mesmo da natureza em sua forma plena e exuberante. Tudo ao alcance das mãos e dos olhos observadores.  As evidências em estado bruto a cada passo, mostrando que as verdades básicas que lhe foram impostas na culta e sofisticada ciência europeia eram imperfeitas, incompletas, fabricadas para servir não ao conhecimento, mas a perpetuidade de preceitos e dogmas de fé e de vaidosos luminares das cátedras acadêmicas.

Seus correspondentes lhe remetiam publicações cientificas do ano, e também um poderoso ampliador do olho humano, um microscópio. Uma parte do “invisível” agora podia ser visto e analisado. E este contava histórias até então só intuídas.

Imagine-se a sua emoção solitária quando suas argutas observações iam se comprovando, quando do aclaramento de dúvida que iam se apresentando, diante das novas descobertas, e quando percebe com clareza fatos comprovadores do processo evolutivo das espécies, como lhe sugeriam as recentes teorias de Charles Darwin.

E a sua resignada frustação de ver as respostas simples dos interlocutores ao seu redor, que nada percebiam deste vasto e desconhecido mundo em vias de ir se revelando. Restava a ele a floresta, as plantas, os animais, o mundo diminuto onde pulsava também a natureza. Restava ao solitário estudioso a Natureza. Que em toda sua vida lhe bastou como a mais amistosa das amizades, a mais generosa provedora de conhecimento. Ele então poderia quase dizer como Pollock:  …. “eu não estudo a natureza, EU SOU A NATUREZA”…

Marcondes Marhetti

Marcondes Marhetti

Coordenador Geral do Grupo Desterro Fritz Müller/ Charles Darwin 200 anos