Poucos ambientes e ecossistemas brasileiros originais que ainda poderiam ser considerados intactos, tanto terrestres como marinhos, foram tão bem estudados no Brasil quanto o foram os das regiões onde o naturalista Fritz Müller residiu ou por elas passou, na segunda metade do século XIX.

Ao contrário do enfoque então predominante de simples inventário da flora, fauna e fúngica por meio de intensas coletas realizadas por notáveis naturalistas viajantes que percorreram os diversos biomas brasileiros, Fritz Müller penetrou fundo no estudo dos detalhes de cada bicho ou planta que examinava. De forma pioneira e não usual à sua época, aprofundou-se também no estudo das interações, ou seja, nas relações de cada ser vivo com o seu ambiente, vivo ou não vivo.

O conhecimento legado por Fritz Müller e por alguns cientistas que vieram à região atraídos por ele, a exemplo do seu primo distante, Alfred Möller, estudioso de fungos, permite que se tenha um parâmetro, ainda que não perfeito ou completo, de como era o ambiente original dos locais por ele estudados, ferramenta importante para tentar se compreender – e corrigir, se for o caso – as modificações ambientais deletérias impostas pela sociedade que aqui se instalou.

Em que pese ter focado nos detalhes, Fritz Müller deixou poucas, mas importantíssimas informações a respeito das alterações ambientais que já começava a se fazer sentir em sua época. Assim, por exemplo, ficamos informados de que o desmatamento na Ilha de Santa Catarina já estava bastante avançado nos anos 1850 – 1870 e que as majestosas araucárias do planalto já vinham declinando, mais pela queima decorrente da prática anual do fogo para “limpeza dos campos” que serviam de pastagens do que pelo corte para exploração madeireira comercial, à época, 1876, ainda insignificante. Descrições das enchentes periódicas no Vale do Itajaí, também encontram nos relatos de Fritz Müller preciosos detalhamentos, incluindo dicas de adaptação e precaução contra danos desses fenômenos naturais.

Lauro Eduardo Bacca

Lauro Eduardo Bacca

Ecologista e fritzmüllerófilo