Em 1856 quando se mudou para Nossa Senhora de Desterro, Fritz Müller estava interessado em estudar a fauna marinha da Ilha e mais especialmente, o desenvolvimento de animais marinhos. Para isso, era necessário ter um microscópio que permitisse observar as diminutas formas larvais desses animais. Requisitou então ao amigo Max Schultze que lhe enviasse um microscópio similar àquele que ganhara em 1844 do professor Johannes Müller, para realizar seus estudos do desenvolvimento embrionário de sanguessugas durante o desenvolvimento de sua Tese na Universidade de Berlim.

O modelo era bastante simples, um microscópio didático, para uso de alunos de graduação, fabricado por Wilhelm Schiek, com três objetivas e aumento útil máximo entre 150 e 180 vezes. Ele recebeu o equipamento em 1857, trazido por Hermann Burmeister, que seguia para o rio da Prata rumo à Argentina. Não se sabe ao certo se o microscópio recebido em Desterro era aquele doado por Johannes Müller ao jovem Fritz, que ele não trouxe ao emigrar ou se era um modelo diferente.

Fato é que com esse equipamento simples Fritz realizou estudos bastante detalhados de morfologia e embriologia de crustáceos marinhos que culminaram na sua obra mestra, o livro Für Darwin, publicado em 1864 em Leipzig, considerado como uma das primeiras provas factuais de apoio a recente teoria da Evolução de Charles Darwin publicada em 1859.

Após a morte de Fritz Müller em 1897, o microscópio ficou de posse da filha Thusnelda, esposa de Robert Lorenz e mantido entre os descendentes da família Schindler. Em 28 julho de 1980, foi lavrado um termo de doação condicionada, no qual constava que o Sr. Roberto Schindler, tataraneto de Fritz Müller, e representante da família Schindler, doa o microscópio Schiek no 824 com o estojo original e demais acessórios, juntamente com um microscópio Busch/Rathenow no 14.010 com o estojo original em madeira e demais acessórios para o Museu de Ecologia Fritz Müller situado em Blumenau (SC).

O doador foi cientificado algum tempo depois que o microscópio fora furtado do Museu e que o ladrão entrou em contato com o então diretor de patrimônio histórico de Blumenau, na época, exigindo uma recompensa com ameaça de jogar o microscópio no rio Itajaí. Após vários e exaustivos contatos com autoridades culturais de Blumenau, o microscópio foi resgatado mediante um pagamento de mil dólares efetuado pelo Sr. Roberto Schindler.

Desde então, o microscópio permaneceu sob a guarda do Sr. Roberto e muito recentemente, com ajuda do Dr. Luiz Roberto Fontes, foi possível localizar o equipamento, que gentilmente está sendo temporariamente cedido para a Exposição comemorativa do bicentenário de nascimento de Fritz Müller, onde será exposto para visitação pública no Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa, em Florianópolis, a partir do dia 31 deste mês. Esta rara peça de uso pessoal do cientista, agora localizada, após as comemorações será doada novamente ao Museu Ecológico Fritz Müller, mediante garantias à sua integridade. O Grupo Fritz Müller Darwin 200 Anos expressa à família Schindler o reconhecimento pelo zelo e cuidado que permitiu a preservação desta peça, que demonstra, entre outras coisas, como Fritz Müller, com meios e instrumentos surpreendentemente modestos produziu avanços reais e uteis no conhecimento e na ciência. Todos estão convidados para conhecer esse objeto raro que pertenceu ao grande naturalista.

Microscópio Schiek no 824 que pertenceu ao naturalista Fritz Müller. Foto: Daiane Mayer/Agecom UFSC
Prof. Mário Steindel – Coordenador Científico do Grupo Desterro Fritz Müller/Charles Darwin 200 anos